Em seu livro China goes green: coercive environmentalism for a troubled planet (Polity Press: 2020), as autoras Yifei Li e Judith Shapiro defendem a ideia de que a China implantou um “autoritarismo ambiental” — e não um “ambientalismo autoritário” — para lidar com as demandas por sustentabilidade. O conceito descartado, apontam, calibra o autoritarismo como mero penduricalho a uma louvável política ambiental; em outros termos: a política como mero instrumento ao desenvolvimento de um projeto ambiental de sucesso. O que se dá, na verdade, é o oposto: o uso estratégico da política ambiental como uma nova forma de capital político, com vistas ao fortalecimento do autoritarismo chinês.
A pergunta sobre a melhor forma política para lidar com os desafios ambientais marca os termos do debate atual. Com o dramático cenário desenhado pelo recente relatório do IPCC sobre a mudança climática, ela parece especialmente relevante. As democracias, de fato, têm falhado na gestão da crise climática. Por outro lado, regimes autoritários vangloriam-se de sua presteza em tomar decisões. Diante do desafio, podemos dobrar a aposta nos recursos democráticos ou inverter a rota política, colocando as fichas no autoritarismo. A resposta, segundo Li e Shapiro, não está necessariamente no modelo autoritário chinês, cujas políticas produziram efeitos também lesivos ao meio ambiente, foram – por vezes – inefetivas a longo prazo e ilegítimas. Contra políticas implantadas de-cima-para-baixo, o investimento em mecanismos democráticos pode levar ao apoio e confiança dos cidadãos.
Um tal debate sobre governança ambiental, porém, parece descolado da atual agenda brasileira. Enquanto a pauta internacional se centra sobre os melhores caminhos para a preservação ambiental, o governo se volta a uma perspectiva extrativista e predatória. Não se exibe um modelo autoritário audacioso para reduzir emissões de carbono ou mudar sua matriz energética à guisa do chinês. Antes, propõe-se um modelo próprio de autoritarismo antiambiental, que vai na contramão do que vinha sendo discutido nos mais diversos fóruns multilaterais e nacionais.
Leia a resenha na íntegra na revista Quatro Cinco Um.