O reacionarismo no poder

Cientistas políticos analisam a ascensão do conservadorismo radical no país e as suas estratégias contra a democracia

O reacionarismo no poder

A Constituição de 1988 e as instituições da “Nova República” são fruto dos esforços de superação da ditadura militar e da reconstrução da democracia no país. Ambos se alicerçam no Estado de Direito, tendo como fundamentos a limitação do poder, a separação de poderes, o sistema de freios e contrapesos, a proteção dos direitos fundamentais e o pluralismo. Portanto, são incompatíveis com a ilegalidade, a corrupção, radicalismos e negacionismos. Nesses termos, compreender a ascensão e o funcionamento de um governo que atenta contra a primeira série de valores e promove a segunda é um desafio. Assumindo-o, os cientistas políticos Christian Lynch e Paulo Henrique Cassimiro produzem em O populismo reacionário: ascensão e legado do bolsonarismo um retrato dos elementos que levaram Jair Bolsonaro à Presidência da República e das forças ideológicas que embasam seu governo.

Lynch e Cassimiro sustentam que os processos políticos que fizeram de Bolsonaro presidente são de ordem interna e externa. No plano externo, estaríamos testemunhando uma crise do modelo de representação liberal. Percebendo-se desconectado da classe política, o povo reivindicaria uma representação “verdadeira”, capaz de expressar a sua vontade, e que residiria em sua conexão com a “identidade autêntica do povo”, apresentando-se como não cooptada pela imprensa, pela classe política ou pelas elites econômicas. Eles chamam de populismo essa forma de representação que recusa mediações. Recorrendo à teoria das ideologias de Michael Freeden, constroem o arquétipo do populismo reacionário, uma expressão política da direita radical marcada pelo reacionarismo, uma versão do conservadorismo incompatível com a democracia.

Internamente, identificam a crise da Nova República como terreno sobre o qual o populismo reacionário chegou ao poder pela primeira vez em nossa história. Fragilizado pela estagnação econômica e por escândalos de corrupção, o ciclo progressista inaugurado a partir da Constituição de 1988 enfrentou uma crise de legitimidade em junho de 2013. Desde então, o conservadorismo se fortaleceu como alternativa política e, na esteira das crises, o populismo reacionário encontrou em Bolsonaro seu líder carismático. O ex-militar seria produto da soma de várias forças ideológicas: o lavajatismo, o saudosismo da ditadura, o golpismo, o neoliberalismo, a nova direita olavista e os movimentos de rua da classe média. Esses feixes, aliados às transformações globais, convergiram na eleição de um governo reacionário e populista, que por vezes recorre a técnicas fascistas de mobilização popular.

Leia a resenha na íntegra na Revista Quatro Cinco Um.