Até hoje me lembro do silêncio repentino que encobria a sala de aula toda vez que a professora Renáta Uitz entrava. Era verão de 2010, Budapeste, Hungria. No mesmo ano em que iniciei um mestrado em direitos humanos na Universidade Central Europeia (CEU), o premiê Viktor Orbán ganhara 68% dos assentos no Parlamento do país, o que lhe conferiu poder ilimitado. O silêncio entre os alunos na sala conotava um certo medo revestido de admiração. A rigidez de Uitz como professora talvez fosse expressão de sua convicção de que seu objeto de estudo, as constituições, importa.
Essa não é uma ideia trivial, em especial num país como a Hungria. Em 2012, quando regressei ao país para o doutorado em direito constitucional comparado sob orientação de Uitz, o premiê húngaro acabara de usar a sua supermaioria no Parlamento para adotar uma nova Constituição no país, a seu gosto. Aquilo foi inesperado, diz Uitz. “Quando o partido que nos deu como primeiro-ministro Viktor Orbán assumiu o poder na Hungria, nós não esperávamos mudanças constitucionais. O partido nunca fez campanha sobre uma reforma constitucional”, contou Uitz em entrevista, em São Paulo, em novembro de 2019.
[Foto: Adrián Zoltán]