A importância no debate público de termos como pós-verdade, fake news e desinformação, pouco conhecidos há uma década, faz a historiadora Sophia Rosenfeld pensar que a verdade se tornou um problema de primeira ordem no mundo contemporâneo. Nada é evidente nessa história. Para compreender como a verdade se tornou uma questão inquietante, Rosenfeld volta ao Iluminismo em seu Democracia e verdade: uma breve história.
O argumento do livro é que falamos da verdade como se a sua dissolução pusesse em risco a democracia por causa de uma certa imagem compartilhada daquilo que é o regime democrático. Democracia e verdade mostra como essa relação se plasmou no Iluminismo e tem perdurado até os nossos dias, quando muitos se perguntam como saber o que é verdade.
Rosenfeld está bem equipada para nos ajudar a encontrar respostas às nossas inquietações. Historiadora das ideias, ela escreveu A Revolution in Language: The Problem of Signs in Late Eighteenth-Century France (2001) e Common Sense: A Political History (2014). Publicado nos Estados Unidos em 2018, Democracia e verdade aparece como um ponto de confluência de seus estudos anteriores. Desafios que o mundo atual impõe à compreensão parecem ter suscitado a reunião do que, nos escritos da historiadora, eram análises separadas de duas dimensões constituintes da democracia: o intelectualismo e o populismo. Seu novo livro mostra que, no século 18, democracia e verdade se entrelaçaram de um e outro lado do Atlântico graças a pensadores como Jefferson, Paine, Diderot, Kant e Burke. Suas ideias serão uma espécie de costura da soberania popular com discursos sobre como acessar o real.