Uma mãe mata um filho. O que acontece depois? E o que veio antes? Fruto do doutorado de Bruna Soares Angotti, Da solidão do ato à exposição judicial: uma abordagem antropológico-jurídica do infanticídio no Brasil se debruça sobre acusação, defesa e julgamento de mulheres acusadas, na legislação brasileira, de matar sob a influência do estado puerperal o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Longe de ter a morte como elemento central, o livro trata, antes de tudo, da vida — de muitas vidas. Em especial, da vida de mulheres que, gestantes, puérperas, muitas delas já mães ou futuras mães, estão unidas a tantas outras pela experiência da solidão como constitutiva da existência feminina em uma sociedade que invisibiliza grande parte de suas dores, afetos, narrativas e vivências.
A etnografia de Angotti é fascinante e potente. Formada em direito e antropologia, ela produziu uma pesquisa etnográfica de qualidade e fôlego, especialmente por suas escolhas metodológicas, de viés multidisciplinar, colocando em diálogo campos do conhecimento e em uso ferramentas distintas. Ao lado de outras pesquisas empíricas sobre o sistema de justiça, essa contribui de forma decisiva para a consolidação da antropologia do direito no Brasil, em um texto acessível para iniciantes e iniciados.