Em 1981, o ensaísta e crítico literário George Steiner — que morreu em fevereiro deste ano — publicou o romance The portage to San Cristobal of A.H. (“O transporte para San Cristobal de A.H.”). As iniciais do título correspondem a Adolf Hitler — que teria sobrevivido à Segunda Guerra e, localizado na América do Sul por caçadores de nazistas, é perseguido e capturado na selva amazônica, sendo julgado ali mesmo devido a seu estado de saúde precário. O romance causou furor e protestos, redobrados quando, no ano seguinte, uma adaptação teatral deu corpo e voz ao Führer. Há inúmeras obras ficcionais que encenam a vida de Hitler, na literatura e no cinema. Mas a narrativa de Steiner, além de inserir Hitler no mainstream artístico-intelectual, desafiava o mandamento formulado por Emil Fackenheim, conhecido como “teólogo do Holocausto”, de “não conceder a Hitler nenhuma vitória póstuma”, uma vez que o livro de Steiner termina dando a última palavra ao ditador, no discurso em que se defende diante do tribunal.