Onde a ditadura nunca acabou

Autor entrelaça a rotina de torturas e execuções nas favelas brasileiras à transição incompleta para a democracia

Onde a ditadura nunca acabou

[Resenha]

Movimentos sociais de favelas e movimentos negros associam a contínua violência praticada por agentes do Estado nas periferias à ditadura militar. A frase “nas favelas, a ditadura nunca acabou” costuma ser empregada por ativistas para enfatizar tanto a violência cometida por militares no período ditatorial — largamente ignorada pela Comissão Nacional da Verdade — quanto a rotina jamais interrompida de torturas, desaparecimentos e assassinatos nas comunidades. O historiador e sociólogo Lucas Pedretti resgata essa frase para questionar a ideia de que o autoritarismo ficou restrito ao passado, bem como a de que apenas os dissidentes da ditadura devem ser considerados vítimas da violência estatal.

Em A transição inacabada, ele oferece uma interpretação sociológica da violência política na transição brasileira e retrata como distintos atores sociais lutaram pelos sentidos que passaram a circular depois de 1964. A história que o autor nos conta enfatiza as disputas entre ativistas e agentes da repressão a partir de suas categorias de mobilização social. Com rigor acadêmico, escrita fluida e sensibilidade política, o livro investiga como militares produziram noções para termos como “terroristas”, “subversivos” e “conciliação”, enquanto movimentos sociais elaboraram outras para “desaparecidos”, “presos políticos” e “direitos humanos”. Pedretti desnaturaliza esse vocabulário, conferindo-lhe movimento em sua fabricação social.

O livro oferece uma história social dos direitos humanos no Brasil ao analisar como a ideia adquiriu sentido na sociedade enquanto resistência à violência do Estado ditatorial. Se antes a expressão integrava o vocabulário de diplomatas ou agentes burocráticos usado em reuniões e documentos da ONU, a partir dos anos 70, movimentos sociais começam a empregá-la em denúncias da repressão. Aqui, ela ingressa no nosso vernáculo principalmente nas vozes de mulheres: mães, filhas e ativistas que enquadraram sua luta contra prisões, torturas e desaparecimentos como questões de direitos humanos.

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