A eleição de Jair Messias Bolsonaro em 2018 atualizou um debate de longa data: qual o papel da religião na vida política nacional? A novidade do atual contexto é a emergência de novos personagens, os evangélicos, que afluem às arenas de discussões e redesenham os modos como a religião e a política aparecem no espaço público. Esses novos personagens vêm recebendo atenção destacada. Preocupação recorrente no debate público é se a presença evangélica seria danosa à democracia. Queremos, neste artigo, apresentar o problema de outro modo, com base em dados coletados pelo Observatório da Religião e suas Intersecções, em fase de implementação no Cebrap.
É bem estabelecido na literatura que o campo evangélico reúne protestantes históricos (anglicanos, batistas, calvinistas, luteranos, metodistas, presbiterianos), pentecostais (frequentadores da Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Deus É Amor e uma infinidade de denominações alocadas em salas alugadas ou garagens nas periferias das cidades e zonas rurais) e neopentecostais (frequentadores da Igreja Universal, Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer, Sara Nossa Terra e outra multiplicidade de denominações). Nos últimos anos, esses grupos atuaram de maneiras diferentes no espaço público e nas instituições estatais.
No debate público, contudo, a distinção entre eles se torna opaca e as designações são evocadas com mais ou menos precisão ao sabor das circunstâncias e dos autores. De modo geral, o que move o interesse da imprensa é o peso político da chamada bancada da Bíblia no Congresso e o discurso de lideranças em mídias sociais e plataformas de vídeos. Por conta desses fatores, a diversidade no segmento evangélico acaba subsumida em duas organizações religiosas majoritariamente representadas: Assembleia de Deus e Igreja Universal do Reino de Deus. A centralidade dessas duas organizações na esfera política projeta uma sombra de incerteza sobre o que se convencionou chamar de “voto evangélico”.