“Você consegue se tentar.” Para o filósofo Michael Sandel, esse mantra tão arraigado na cultura liberal é o responsável pela escalada populista e conservadora nos Estados Unidos e no mundo. Em seu mais recente livro, A tirania do mérito, Sandel busca demonstrar o caráter tóxico da meritocracia e como esse princípio está ligado ao Brexit e à eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2016.
No livro, o autor descreve como a meritocracia que marca moralmente a sociedade, dividindo-a entre vencedores e perdedores, se tornou central nos países anglo-saxões, especialmente nos Estados Unidos. Logo na introdução, Sandel aborda o escândalo de 2019 que revelou um esquema de fraudes para ingressar em universidades de elite dos Estados Unidos, como Yale, Stanford, Georgetown e a Universidade do Sul da Califórnia (USC). Esse caso é emblemático das consequências da cultura meritocrática, de sua relação com a desigualdade crescente e de como o mérito individual não pode estar desvinculado de fatores além do nosso controle (renda e cuidado familiar, por exemplo).
O autor traça uma história moral do mérito, mostrando como essa ideia está conectada a visões religiosas como a ética protestante do trabalho enquanto responsável pelo destino. O privilégio aristocrático foi substituído pela ideia de mérito, que parte do pressuposto de que os indivíduos são premiados por seus esforços e habilidades, e não em razão da condição social de nascimento. No entanto, Sandel argumenta que as elites descobriram como passar suas vantagens adiante, o que acabou convertendo a meritocracia em uma aristocracia hereditária que legitima as desigualdades.
Leia a resenha na íntegra na revista Quatro Cinco Um.