Fevereiro de 2018: Ministério da Educação ameaça professor que ofereceu curso intitulado “O golpe de 2016” em faculdade de ciência política.
Outubro de 2018: agentes policiais interrompem aulas e retiram faixas de protesto de universidades públicas de todo o país.
Abril de 2019: ministro da Educação acusa universidades públicas de fazerem “balbúrdia”. Depois de bloquear 30% das dotações orçamentárias das universidades públicas acusadas, o ministério estende o bloqueio a todas as universidades federais.
Maio de 2019: ministro da Educação afirma que vai cortar bolsas de pesquisa com “viés ideológico”.
Maio de 2020: área de humanidades é excluída de bolsas federais de iniciação científica.
Olhar friamente para todos esses episódios de uma vez confere sentido a uma história ainda mal contada. Na vida cotidiana, aparecem como fatos avulsos que se dissolvem na massa de informações de conjuntura. Quando agrupados, a lógica e o fio condutor da repressão à liberdade se desvelam. Apesar de “arquivo não escrever história”, esse material em “estado bruto, sem encadernação, sem capa, apenas reunido e atado com um feixe de palha”, como diz Arlette Farge em O sabor do arquivo (Edusp), é um primeiro passo para processar essa bateria de fatos. Integrá-los é fundamental para iluminar um alvo central de qualquer projeto autoritário.
Liberdade acadêmica não é só o direito individual de fazer perguntas e buscar respondê-las a partir do conhecimento acumulado por gerações de quem já perguntou e respondeu antes. Ou de demonstrar que as respostas que temos não são suficientes e assim despertar novas investigações. Não é mera liberdade individual nem uma simples variante da liberdade de expressão.