A democracia depende da saúde pública, e a saúde pública depende da democracia. O primeiro lado da afirmação sustenta que, para a configuração de um regime democrático, além de liberdades e direitos políticos, uma comunidade precisa de iniciativas amplas de promoção e manutenção de condições socioeconômicas dignas — dentre elas, a saúde de sua população. O segundo lado da frase defende que a saúde pública precisa do funcionamento efetivo de uma democracia, não só com eleições e competição partidária, mas especialmente com os valores que definem o compromisso democrático: a proteção de liberdades e direitos políticos, em especial o de mobilização e contestação. Em meio à pandemia do coronavírus, que já contaminou mais de 1.500.000 pessoas e matou 90.000, os governos se veem forçados a executar medidas rápidas e unilaterais para conter a doença. Nessas ações, questiona-se no mundo todo a própria relação entre saúde e democracia. Este se torna, assim, um momento crítico para afirmar e reforçar os dois lados da equação.