O mandato acabou, o povo sumiu, o TSE chegou. A fanbase de Bolsonaro está atônita. Damares Alves tentou juntar os cacos no Twitter: “A gente já sabia que isso ia acontecer”. De fato, não foi por falta de aviso. Embora o próprio ex-presidente tenha tentado emplacar um pedido de vista com seus correligionários no tribunal — Raul Araújo e Kassio Nunes Marques —, não conseguiu fazer a pauta travar. Por 5×2, ele perdeu seus direitos políticos parcialmente até 2030 na última sexta-feira, 30 de junho, embora ainda mantenha, por exemplo, o direito de votar.
E agora? Não há dúvidas que o julgamento foi um marco por si só e merece atenção. Foi um passo necessário, embora não suficiente, para a longa travessia das instituições rumo à normalização democrática. Daqui para frente, precisamos disputar a narrativa sobre o que o veredito significou, como também pressionar por outras formas de responsabilização presidencial. Para isso, quanto mais informação, melhor. Bolsonaro agora enfrenta outros quinze processos no TSE e mais uma enxurrada em outras cortes. Dizem as línguas do PL que a conta chega aos seiscentos processos — daí porque ele passou o chapéu do pix à sua base: ajuda de custo. Além disso, está vivendo um derretimento acentuado de sua popularidade digital e até concedeu entrevista à Folha de S.Paulo, com direito à publicação de um retrato seu sem camisa.
As experiências recentes de líderes autoritários democraticamente eleitos, como nos casos de Hungria, Polônia, Turquia e Índia, mostram que a reeleição é um ponto-chave para o aprofundamento e consolidação dos projetos políticos autoritários. A principal forma de contenção desse caminho, portanto, é a derrota eleitoral desses líderes, fato que não ocorreu nos países mencionados acima, mas que foi o feliz destino de outras democracias que experimentaram retrocessos democráticos recentes, como os EUA com Trump e o Brasil com Bolsonaro.