Um dos discursos políticos de Jair Bolsonaro mais citados por seus críticos é aquele proferido em 17 de março de 2019. À ocasião, o recém-empossado presidente declarou a uma elite política conservadora em Washington que, no Brasil, ainda havia muito a ser ‘desconstruído’ antes que ele pudesse ‘começar a fazer’ coisas. A frase seguinte, no entanto, é poucas vezes lembrada: ‘Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz’.
A frase parece revelar a consciência de que esse ‘desconstruir-para-construir’ é tarefa de longo prazo. Construir, nessa lógica, exigiria ir além do ponto de inflexão. Além disso, os anos seguintes revelaram que ‘desconstruir’ foi eufemismo diante de radical bloqueio de políticas públicas sem, no mais das vezes, colocar qualquer coisa no lugar.
Os mecanismos de fiscalização e controle ambientais foram amplamente desidratados, ao mesmo tempo em que cresceram o índice de desmatamento amazônico, queimadas descontroladas na região do Pantanal e uma profusão de invasões do garimpo em terras indígenas, como a Yanomami. Os recursos de financiamento para ciência e pesquisa minguaram, em meio a ataques de autoridades públicas às universidades federais e ao trabalho de cientistas.