Em uma visita a Paris, Luís Roberto Barroso discursou, como presidente do Supremo Tribunal Federal, sobre as “razões de um certo protagonismo do Supremo”. Em resposta, ouviu do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy uma recomendação de cautela. “O senhor está pronto para uma nova presidência. Tenha cuidado, senhor presidente, foi um discurso excelente, eu entendi tudo. Trata-se de um discurso de orientação política, muito mais do que de orientação jurídica”.
O espanto de Sarkozy é compreensível. Não há par no mundo para o protagonismo que o Supremo alcançou na política brasileira. A pronunciada atuação teria sido provocada pelo arranjo institucional estabelecido pela Constituição de 1988 combinado a uma série de mudanças legislativas e contextuais. O protagonismo político do tribunal, por sua vez, teria impulsionado uma política de comunicação da instituição. Esse é, em linhas gerais, o argumento de Grazielle Albuquerque em seu Da lei aos desejos: o agendamento estratégico do STF.
Trata-se de um inovador esforço de diálogo interdisciplinar entre comunicação e ciência política, apresentando uma análise das relações entre a cobertura da imprensa, a política de comunicação do tribunal e o seu crescente protagonismo político. A análise se concentra nos momentos iniciais de construção dessa dinâmica comunicacional, entre 1988, com a nova Constituição, e 2004, quando foi promulgada a Reforma do Judiciário. Também faz breves incursões por períodos mais recentes, marcados pelo julgamento do mensalão, a ascensão da Lava Jato e a crise das relações entre Executivo e Judiciário em 2022. A principal fonte de dados da análise é um conjunto de entrevistas com 24 profissionais com experiência na cobertura cotidiana do Supremo.