“À medida que os dias passavam, crescia em mim a esperança de que a opinião pública, posta em estado de alerta, seria capaz de me arrancar das garras dos meus torturadores; ao mesmo tempo, tinha certeza de que eles prefeririam o escândalo da minha morte ao das revelações que eu, vivo, não deixaria de fazer. Deviam mesmo ter pesado tudo isso, pois um paraquedista me dissera ironicamente, quando eu ainda não conseguia me levantar: ‘Que pena, você poderia contar tanta coisa, daria um livro grosso!”.
Foi o que relatou em A tortura o francês Henri Alleg, diretor do jornal Alger Républicain, ao ser torturado por um mês no “centro de triagem” de El-Biar, na periferia da capital Argel, em junho de 1957, em meio à guerra de independência da Argélia (1954-1962), um dos episódios mais traumáticos da história francesa e do colonialismo europeu (a França invadira o país em 1830 e, desde então, tornara-o uma de suas principais colônias). O livro, na verdade, não é nada longo. Com uma prosa cirúrgica, Alleg descreve em menos de oitenta páginas as sessões de tortura pelas quais passou nas mãos de militares paraquedistas antes de ser levado para o “centro de alojamento” de Lodi, onde foi sentenciado a dez anos de prisão. Em 1960, fugiu para a Tchecoslováquia, onde ficou em segredo até os acordos de Évian de 1962, que colocaram um fim à guerra.