“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria.” A afirmação foi feita pelo então candidato Jair Bolsonaro, em 2018, referindo-se aos seus adversários na eleição. Não se sabe, contudo, a que lei ele estava se referindo.
Ajuda a entender se olharmos para outra declaração dele, de 2017: “Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adéquam ou simplesmente desaparecem”; ou ainda para uma mais antiga, de 1999, reagindo à recusa do presidente do Banco Central da época de depor em uma CPI: “Ele merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também”.
A maioria dos eleitores brasileiros, mesmo diante de tantas evidências, decidiu eleger um presidente sem nenhum respeito pela democracia, que nunca teve problemas para vocalizar o que há de mais brutal, violento e boçal na sociedade brasileira. Houve, inclusive, quem acreditasse que ele poderia renovar nossa democracia.
Foi em ano muito oportuno, portanto, que a editora Ateliê de Humanidades lançou “O século do populismo”, do pensador francês Pierre Rosanvallon, que neste livro se dedica a pensar as ameaças que, com maior ou menor força, vêm corroendo, pelo interior, as principais democracias do mundo, a nossa em particular. O século do populismo responde à realidade da chegada ao poder, nos últimos dez anos, pelo menos, de líderes populistas em países cuja política interna tem impacto para além de suas fronteiras, sobretudo nos Estados Unidos, com Donald Trump, e, claro, no Brasil, com Bolsonaro.