Dave é um cidadão médio americano vivendo em Nova Jersey. Passa horas da sua vida em congestionamentos e mantém um ritual de toda sexta-feira tomar umas cervejas lendo livros da biblioteca do seu bairro. Ele vem de uma família apoiadora do Partido Democrata, mas ao longo da vida desenvolveu visões mais próximas às do Partido Republicano e votou em Donald Trump em 2016. Ele se informa por uma rádio local, por um site de direita chamado The Daily Caller e pelo x (ex-Twitter). É assim que Chris Bail apresenta o primeiro personagem do seu livro Breaking the Social Media Prism, publicado em 2021, ainda sem tradução para o português.
“Estaria Dave preso em uma câmara de eco em que suas visões de mundo são apenas reforçadas pelo que ele vê no mundo digital e isso estaria tornando-o mais radical em suas opiniões?”, Bail questiona. O autor conduziu um experimento em que expôs cidadãos americanos como Dave a visões opostas às suas em redes sociais durante um período limitado de tempo. As conclusões são surpreendentes: “Expor pessoas a visões do outro lado não fez com que os participantes se tornassem mais moderados”. Dave, ao contrário, desenvolveu visões mais conservadoras. Ao ser exposto a histórias de imigrantes, sua reação não foi de empatia, mas de questionar se aqueles seriam imigrantes reais ou uma conspiração democrata.
A indagação de Bail alimenta uma discussão quase onipresente nas análises políticas e de conjuntura, na literatura sobre novos tipos de populismo e extremismo radical e sua atuação na “morte das democracias”: o papel da internet e das redes. Em que medida a culpa seria da internet ou das mídias sociais?