As prisões são o repositório de sentimentos sociais muito perversos. O sentido moderno de prisão não tem quase nada a ver com ressocialização ou responsabilização; é apenas um ato de força, que tem pouco significado em termos educativos e que cumpre politicamente papéis de neutralização de pessoas, de estigmatização de grupos e de imposição desigual de dor e sofrimento. Em sociedades como a nossa, marcadas pelo legado colonial e pelo racismo, a utilização das prisões como centro do controle punitivo torna-se ainda mais complexa, pois a prisão passa a ser um símbolo de atualização da experiência de escravização. Como escreve Angela Davis em Estarão as prisões obsoletas? (Difel, 2017), o encarceramento entre nós está associado à racialização.
Em seu novo livro, Prisões: espelhos de nós, Juliana Borges, consultora do Núcleo de Enfrentamento, Monitoramento e Memória de Combate à Violência da OAB-SP e autora de Encarceramento em massa (Pólen, 2019), aponta a tragédia do sistema prisional brasileiro ao localizar o impacto letal da pandemia sobre as pessoas privadas de liberdade e interrogar, a partir de diferentes perspectivas do pensamento negro contemporâneo, o quanto o contexto prisional informa sobre o Brasil e suas históricas e brutais desigualdades e violências. Esse ensaio fluido e envolvente, organizado em cinco capítulos, aborda os debates sobre racismo, prisão e políticas criminais alternativas com base em uma perspectiva abolicionista penal, e não punitivista. Na obra, são interrogados os fundamentos da racionalidade punitiva propondo outros pontos de vista acerca dos processos de criminalização e desafiando o leitor a refletir sobre o peso do silêncio nas relações sociais, o mito da não violência da sociedade brasileira e o significado do racismo e o do sexismo na formação histórica e cultural do país.
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Tela: Dalton Paula
Fotografia: Paulo Rezende