A voz das usuárias de crack

Obra coloca mulheres que consomem a droga como protagonistas da produção do conhecimento, mesclando pesquisa e ativismo

A voz das usuárias de crack

A maioria das pessoas se assusta de primeira quando ouve a palavra crack. Essa droga, um subproduto da cocaína, remete a um imaginário construído internacionalmente desde os anos 1980 a partir dos Estados Unidos e da guerra às drogas do governo Ronald Reagan (1981-89). Os termos que moldam esse imaginário são assustadores, alarmistas, desumanizadores: epidemia do crack, mães do crack, bebês do crack, cracolândia, zumbis do crack, mortos-vivos, cracudos, corpos sem alma. Todos eles se articulam e legitimam concepções de segurança e saúde públicas repressivas em diferentes lugares do mundo contra populações vulneráveis, marginalizadas e, no mais das vezes, moradoras de rua, marcadas como usuárias desta substância e, portanto, perigosas e moralmente degradadas.

O livro de Luana Malheiro, Tornar-se mulher usuária de crack: trajetórias de vida, culturas de uso e políticas de drogas, pode ser lido como um libelo contra esse imaginário do crack, marcado por opressões de raça, gênero e classe social. Além de acompanhar vinte mulheres consumidoras de crack, frequentadoras das cenas de uso no centro de Salvador, Malheiro mergulha na trajetória de vida de oito delas: Beatriz, Catarina, Chá Preta, Ingrid, Dandara, Mônica, Luanda e Maria. Ao retratar a vida, a agência, a resistência e as reflexões dessas mulheres sobre sua própria condição, a autora transcreve as vozes e identidades dessas suas “parceiras de pesquisa”, como as designa. Essas mulheres, que permeiam todo o texto, mas são o destaque do capítulo central do livro (o terceiro), expressam toda a humanidade das usuárias de crack, desafiando o senso comum e os estereótipos.

Leia a íntegra do conteúdo aqui.


Tela: Dalton Paula

Fotografia: Paulo Rezende