Completamos em agosto no Brasil seis meses de covid-19 desde a notificação do primeiro caso, em 26 de fevereiro, ultrapassando a marca dos 100 mil mortos. O primeiro óbito oficialmente divulgado ocorreu em março, quando começou a nossa descoordenada política de distanciamento social, com ações desencontradas, ausência de liderança nacional da crise, falta de responsabilidade e nem sequer demonstrações de empatia pelo governo pelos que morreram.
Esse cenário distópico tem nos levado a apresentar alguns dos piores indicadores internacionais relacionados à pandemia. Soa como um projeto de manutenção das desigualdades sociais construídas de forma interseccional: raça e etnia, classe e território, gênero e sexualidade se intercruzam na produção das desigualdades sociais e na distribuição de poder na sociedade. Na condição de quem investiga, leciona e escreve há trinta anos sobre a temática das desigualdades raciais e de gênero no Brasil, vejo-me perplexa. Essa perplexidade vem do fato de que, mesmo diante de mais de 100 mil mortes, o projeto em curso vem para tornar ainda piores essas desigualdades.