A pandemia escancarou como nossas instituições políticas estão trabalhando na improvisação, sem conseguir saber se vão durar. Crises da democracia, de Adam Przeworski, e Ponto-final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia, de Marcos Nobre, são livros que, de alguma maneira, ajudam a compreender o Brasil de hoje a partir de perspectivas diferentes mas que se complementam.
Questionados se acham que seus filhos terão uma vida pior que a sua 60% dos entrevistados nos Estados Unidos e 64% na Europa responderam que sim. É a primeira vez desde 1820 que uma geração espera viver pior do que a de seus pais, diz Przeworski. Como chegamos a este ponto? O livro soma-se aos trabalhos que têm sido publicados recentemente sobre a morte, o fim, e tudo o mais que remeta à crise da democracia tal qual a conhecemos. Não que Przeworski tenha a resposta, mas ele dá boas pistas.
A primeira é que o Estado de bem-estar social está na lona. Até 1978, aumentos salariais seguiam crescimentos de produtividade e a distribuição de renda por tipo de ocupação era estável. Isso era possibilitado pelo fato de operários da indústria estarem organizados em sindicatos protegidos pelo Estado e, com pleno emprego, terem o monopólio sobre o mercado de trabalho. As políticas do governo eram submetidas a uma lógica parecida: um aumento da tributação reduziria os investimentos e o consumo futuro. Por sua vez, diante das demandas salariais e tributárias moderadas, as empresas não só investiam, mas conviviam com os sindicatos e a democracia. Com isso, afirma Przeworski, era possível gerar um “acordo de classes democrático”.