Ao pedir para que os moradores da Ilha de Inhaca, próxima a Maputo, capital de Moçambique, identificassem um problema ambiental local, uma equipe da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregada de uma missão de “educação ambiental” ouviu sobre a invasão de tinguluve, os porcos do mato. Na língua local, o chindindinhe, essa palavra também serve para falar de “espíritos dos falecidos que adoeceram depois de deixar de viver”. O abatimento dos tinguluve, solução que parecia evidente para a equipe internacional, foi extremamente mal recebida pelos locais, que não viam sentido algum em tentar matar espíritos. “Ninguém mais quis falar ou escutar fosse o que fosse”, narra Mia Couto.
O diálogo acima é relatado pelo escritor moçambicano no seu texto “Línguas que não sabemos que sabíamos”. Ele conta que as falas da equipe da ONU, feitas em inglês e traduzidas pelo próprio Mia Couto para português, muitas vezes não encontravam correspondência exata no chidindinhe. A palavra “cientista”, por exemplo, não existe na língua local e acaba sendo traduzida como inguetlha, que, segundo o autor, quer dizer feiticeiro. Assim como na Ilha de Inhaca, na pandemia que vivemos, a falta de compreensão comum do problema e das formas de combatê-lo tem consequências concretas e tristes. No caso atual, a irreparável perda de vidas.
“Coronavírus, esse novo [vírus] que apareceu, não é problema nenhum. Sua imunidade é que realmente determina se você vai ser infectado ou não. Se as suas células do sistema de defesa estão funcionando bem, você pode ficar deambulando nos shoppings, em qualquer lugar, você pode abraçar aquele que está com esse vírus, não importa, gente, não tem problema nenhum”. Isso é o que diz o médico Jea Myung Yoo, no seu vídeo “Dicas de como evitar CORONAVÍRUS”, que já foi visto mais de 750 mil vezes.