Amar, verbo subversivo 

Publicado em 1841, romance censurado da cubana Gertrudis Gómez de Avellaneda é pioneiro da literatura abolicionista e feminista

Amar, verbo subversivo 

 

Um romance que contém “uma doutrina subversiva ao sistema de escravidão na ilha”, e que é “contrário à moral e aos bons costumes”. Essa foi a opinião de Hilario de Cisneros, Censor Regio de Imprenta, ao censurar Sab, de Gertrudis Gómez de Avellaneda (1814-1873) na colônia espanhola. Publicada primeiro na Espanha, em 1841, e quase quatro décadas depois em Cuba, a história é considerada um clássico na terra natal da autora.

O censor colonial acertou, a obra é subversiva. Primeiro romance de Avellaneda, Sab se soma tanto ao que se tem chamado de literatura abolicionista da época quanto à feminista. Escrita nos quadros do romantismo do começo dos oitocentos, denuncia a injustiça da escravidão e das limitações impostas às mulheres. Segundo Catherine Davies, professora do instituto de línguas, culturas e sociedades da Universidade de Londres, é o único romance feminista-abolicionista publicado por uma mulher na Espanha ou em Cuba durante o século 19.

A história, que se passa no início daquele século, tem como paisagem uma plantação de cana-de-açucar e narra a impossibilidade do amor de Sab por Carlota. Ele é um dos homens escravizados pela família dela. Filha de aristocratas locais, Carlota desconhece os sentimentos de Sab. A relação se complica logo nas primeiras páginas, com a chegada do noivo de Carlota, Enrique Otway, comerciante inglês interessado na fortuna da família. Teresa, prima órfã de Carlota, apaixona-se por Enrique e escuta as confidências de Sab. Martina, indígena que sofre as agruras da exclusão social, tem uma relação maternal com Sab e completa o rol de personagens centrais. Os afetos, a trama e os vínculos sociais do romance mostram as tensões na ordem colonial cubana, marcada por raça, gênero e classe.

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