“Racismo religioso” é um conceito em disputa e serve como uma alternativa à ideia de “intolerância religiosa”. Movimentos sociais e acadêmicos das ciências humanas, críticos do termo, questionam a posição assimétrica ocupada pelos afro-religiosos perante outras religiões, compreendendo os terreiros como territórios negros, físicos e existenciais, nas Américas. Busca-se com o termo inverter a interpretação da origem do problema, retirando-o do campo da moral e analisando-o a partir das estruturas sociais racializadas, cuja sustentação se dá por meio de discursos a contrapelo do pluralismo religioso e de um Estado Laico.
Os ataques a esses coletivos expressam o racismo estrutural da sociedade brasileira, em que elementos e práticas acionadas por culturas negras são demonizadas desde o encontro colonial. A presença das religiões de matriz africana no espaço público encontra-se em um campo minado. Expulsões, ameaças e estigmatização são elementos de uma política racista praticada contra comunidades afro-religiosas que tiveram grande relevância na construção da própria cidade (ainda que invisibilizada).
Em um contexto de intensas transformações ecológicas e emergência climática, uma pesquisa financiada pela FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas), no âmbito da Universidade Federal do Amazonas, propôs-se a investigar a relação entre centros afro-religiosos de Manaus e os espaços de mata na cidade. A partir de sete trabalhos de campo, uma gama de questões ganhou corpo. Dentre elas, o tema do racismo religioso, não apenas pela variedade das formas de violência perpetradas contra os praticantes das religiões, mas também pela continuidade entre as manifestações de racismo religioso e racismo ambiental.