Com título discretamente evocativo ao “caminho da servidão” de Friedrich Hayek, O caminho da autocracia integra uma linhagem de esforços de radiografia da atualidade, que buscam apreender a erosão da democracia mundo afora, detectada desde a crise de 2008. Mas se o economista austríaco ultraliberal redigiu seu libelo antissocialista quando a social-democracia e o Estado de bem-estar davam seus primeiros passos, o momento atual é quase oposto: as redes de proteção são desmanteladas em nome da competitividade e da austeridade enquanto novas lideranças autoritárias prometem renascimentos nacionais e o fortalecimento de um modelo familiar restrito.
O caminho da autocracia conta uma parte dessa história, com um recorte que abarca o Brasil dos últimos anos. Elaborado por pesquisadores do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut), fundado em resposta à chegada de Bolsonaro ao poder para “monitorar as manifestações do autoritarismo e de repressão às liberdades”, o opúsculo atualiza dados do relatório homônimo publicado em 2022, acrescentando a discussão dos eventos pós-eleitorais, o mais recente sendo o famigerado “8 de janeiro”.
O Brasil é comparado principalmente a um grupo de Estados que também possuem, ou possuíam, instituições democráticas sólidas, além de terem uma figura individual, o autocrata do título, que tenta concentrar o poder. São eles a Hungria de Viktor Orbán, a Polônia de Andrzej Duda, a Turquia de Recep Erdogan, a Índia de Narendra Modi e os Estados Unidos de Trump. Para as comparações internacionais, o trabalho se baseia em documentos emitidos nos últimos anos por organizações não governamentais como o Varieties of Democracy (V-Dem), o World Justice Project, a Freedom House e a Artigo 19. No caso brasileiro, as informações são do próprio Laut.