Essa é a eleição mais importante desde a redemocratização. Não por vivermos mais uma crise social e política em nossa história, mas por estarmos no limiar quase definitivo de um processo de erosão democrática: a reeleição de um líder autoritário. Foram quase 1.400 dias de terror e escárnio de um primeiro mandato. Depois de pelo menos 1.898 atos autoritários — número que alude apenas a atos reportados pela grande mídia entre 2019 e 2021, e registrados pela Agenda de Emergência do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) — hoje nos encontramos em um misto de paralisia e repulsa.
Uma das táticas mais sofisticadas de governos que implementam projetos autocráticos é a produção massiva de atos formais e informais para desinstitucionalizar o estado, desmontar suas estruturas de controle e submeter agentes de estado à vigilância e à intimidação. Nunca foi tão importante diagnosticar com clareza o significado desse processo e apontar suas consequências para o exercício das liberdades. E, a partir disso, assumir posição política firme.
Nesse período, escalamos a níveis surpreendentes de normalização do inaceitável. 685 mil mortes por covid, 657 mil novas armas nas mãos de CACs, 61 milhões de brasileiros no mapa da fome e 147 pedidos de impeachment depois, seguimos sem reações institucionais à altura. Assistimos ao incremento da violência, de desemprego e desigualdade, do desmatamento amazônico. Os fantasmas da inflação, do derretimento do poder de compra e da fome. Até o sarampo e a poliomielite voltaram. Ainda buscamos recursos para nos ressensibilizar diante de um sistema de reprodução da brutalidade em massa.
Diante desses fatos, imaginar novos futuros é mais necessário do que nunca. O mais sombrio deles já está bem esquadrinhado na cena internacional. Reeleger líderes autoritários como Bolsonaro pode ser uma sentença de morte às democracias. Esse é o tema do relatório O caminho da autocracia – estratégias atuais de erosão democrática.