No mito grego, Teseu deve matar o Minotauro, criatura que se encontra em um labirinto do qual ninguém logra sair vivo. Ariadne dá a Teseu um novelo de lã, que o herói desenrola ao entrar e graças ao qual consegue sair do labirinto. Em A condição humana, Hannah Arendt dá a imagem do fio de Ariadne ao que chama de grande tradição de pensamento ocidental.
Em termos históricos, conta Arendt, essa tradição se estabeleceu com a apropriação da filosofia de Platão e Aristóteles pelos romanos. Em seu cerne se encontram a precedência do mundo das ideias em relação ao das aparências, a concepção do ser humano como ser racional e uma tipologia das formas de governo construída com base nos pilares da lei e do poder. No plano das ideias, sua autoridade chegou ao fim com as contestações de Søren Kierkegaard, Karl Marx e Friedrich Nietzsche, os quais inverteram suas hierarquias conceituais, a começar pelo deslocamento da racionalidade como definidora do ser humano para distingui-lo pelo sofrimento, pelo trabalho ou pela vontade. Tão contestada tradição se rompeu, enfim, com o totalitarismo, uma nova forma de governo, cujo surgimento resulta no aparecimento de novas categorias jurídicas, como “crimes contra a humanidade” e “genocídio”.
Arendt lida de formas diferentes com a questão da ruptura da tradição em Origens do totalitarismo (1951), A condição humana, (1958) e Entre o passado e o futuro (1961) e em cursos e ensaios, alguns deles reunidos no recém-lançado Pensar sem corrimão (Bazar do Tempo). Esse material mostra que a ruptura foi processual e começou antes da ascensão dos regimes totalitários, remontando à Primeira Guerra.
Leia a resenha na íntegra na revista Quatro Cinco Um.