e democracia
Vigilantismo digital e autoritarismo tecnológico
De acordo com relatório publicado pelas agências ‘We are Social’ e ‘Hootsuite’, quase 60% da população mundial usa a internet (4,66 bilhões de pessoas). Em um contexto onde o vigilantismo digital está constantemente presente, os dados produzidos por esses usuários se tornam um prato cheio para pessoas, grupos e empresas com interesses diversos. Existem desde ferramentas digitais para denúncias anônimas de crimes até corporações capitalistas de vigilância, que usam tecnologia para extrair dados pessoais e transformá-los em produtos nos mercados de comportamentos futuros (uma economia que negocia informações sobre nossas preferências).
Há pessoas e grupos que praticam o vigilantismo nas redes sociais para atacar e incentivar ações violentas contra os mais vulneráveis, como mulheres, pessoas negras e pessoas LGBT. Por outro lado, movimentos sociais também podem utilizar a internet para realizar denúncias e mobilizar, reproduzindo, em alguns casos, práticas vigilantistas. Além disso, essas tecnologias também são utilizadas para a modulação de comportamentos, incluindo na política. Recentemente, influenciaram na escolha de um presidente da república nos EUA – o escândalo da Cambridge Analytica – e contribuíram para propagação de ideias antidemocráticas e contrárias às instituições no Brasil.
Nesse contexto, destaca-se a ideia do tecnoautoritarismo, que, de maneira simplificada, representa o autoritarismo praticado por meios digitais – e também serve para explicar os processos de expansão desproporcional do poder estatal por meio do uso de tecnologias.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, essa manipulação da opinião pública por meio das redes sociais é uma perigosa ameaça à democracia. Segundo o estudo, as redes sociais se mostram meios extremamente atrativos para a propaganda política e social, e, em muitos países, campanhas por meios desses canais de comunicação já aumentaram tensões étnicas, ressuscitaram movimentos nacionalistas, intensificaram e até resultaram em crises políticas.
Mas o que fazer diante desse cenário cheio de ambiguidades e contradições? É possível chegar em um equilíbrio e garantir direitos básicos como a privacidade? Para refletir sobre essas questões, Anna Venturini e Felipe de Paula conversam com Caio Machado, advogado, especialista em desinformação, pesquisador do LAUT e diretor do Instituto Vero; e com Mariana Valente, doutora em Direito e diretora do InternetLab, sobre vigilantismo digital e como ele está relacionado ao monitoramento constante das nossas ações nos ambientes virtuais.
A conversa aborda o cibervigilantismo e tecnoautoritarismo e ressalta a necessidade de determinar caminhos éticos em um mundo cada vez mais datificado e tecnológico. Indica como essencial a conscientização coletiva sobre a importância da privacidade e outros direitos fundamentais, em um processo que envolve o Estado e os indivíduos. Aponta como desafio garantir que a tecnologia continue contribuindo com nossas vidas e nossa segurança, ao mesmo tempo em que os direitos e dados dos cidadãos sejam protegidos.
Aprofunde-se no tema
Ao final do episódio, nossos apresentadores e convidados indicam livros, filmes, documentários e artigos que colaboram para o aprofundamento do tema discutido. Confira:
Caio Machado recomenda:
- A série ‘Upload: Realidade Virtual’ (2020), de Greg Daniels.
- A série ‘Mr robot’ (2015), de Sam Esmail.
- O podcast ‘Note to Self’ (2012), de Manoush Zomorodi.
- O podcast: ‘Bug do Milênio’, produzido pelo Instituto Vero.
Luisa Plastino sugere:
- A série ‘Years and Years’ (2019), de Russell T Davies.
Mariana Valente indica:
- O filme ‘Som ao Redor’ (2013), de Kleber Mendonça Filho.
- O filme ‘Divino amor’ (2019), de Gabriel Mascaro.
Áudios utilizados no episódio 07
- Trecho do vídeo ‘Lute, Lola, lute!’, do canal Meteoro Brasil.
- Trecho da reportagem ‘Lei Lola: crimes de ódio contra mulheres devem ser investigados pela Polícia Federal’, do canal do youtube Câmara dos Deputados.
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O Revoar é publicado semanalmente, às quintas-feiras, sempre no começo do dia. A temporada Vigilância, vigilantismo e democracia é apresentada por Anna Carolina Ribeiro e Felipe de Paula, com produção da Rádio Novelo.
Para falar diretamente com a equipe, escreva para revoar@laut.org.br.
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Doutora em direito pela Universidade de São Paulo, pesquisadora na área de direitos humanos e tecnologia, diretora do InternetLab e professora no Insper.
Diretor do Instituto Vero, doutorando pela Universidade de Oxford e pesquisador do Laut.
Ficha técnica
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