e democracia
Uma resistência tecnológica
Ao longo dessa temporada, Anna Carolina Venturini e Felipe de Paula mostraram como as práticas de vigilância e as tecnologias têm grande potencial de violar direitos fundamentais e, em alguns casos, contribuir para atos autoritários e antidemocráticos por parte do Estado. A essa altura, já está claro o tamanho do problema que a gente tem: monitoramento cada vez mais amplo e muito pouco transparente; vigilância pública e privada muitas vezes à margem da lei; uso de algoritmos e inteligência artificial que possuem problemas de base; vigilantismo que emerge das falhas do estado; e ameaças a premissas básicas da democracia.
Mas será que é possível resistir e enfrentar as práticas autoritárias de vigilância e vigilantismo? Como grupos historicamente discriminados desenvolveram táticas de resistência a práticas autoritárias de vigilância e vigilantismo? Invertendo a lógica que permeia as conversas anteriores, o último episódio da temporada aborda o uso de tecnologia para monitorar o Estado e, principalmente, para auxiliar a população diante de problemas não resolvidos e proteger o cidadão diante de ações indevidas. São exemplos: a plataforma Fogo Cruzado que registra a ocorrência de tiroteios e ajuda pessoas diariamente a organizarem suas rotinas no Rio de Janeiro e em Recife; o aplicativo PenhaS, criado pela ONG AZMina para auxiliar mulheres em situações de violência; e o projeto Operação Serenata de Amor, para fiscalizar gastos públicos e compartilhar as informações.
Para refletir sobre esse assunto, convidamos Silvana Bahia, diretora de programas do Olabi e idealizadora do PretaLab; Nina da Hora, programadora e pesquisadora de ciência da computação que quer hackear o racismo; e Cecília Olliveira, jornalista especialista em segurança pública e idealizadora da plataforma Fogo Cruzado. A conversa mostra que as mesmas tecnologias utilizadas para nos vigiar e para controlar a sociedade também podem ser aplicadas para transformar realidades e, ainda, para nos proteger das próprias práticas de vigilância e vigilantismo – seja por meio do fornecimento de informações importantes que estavam inacessíveis, seja por meio de mobilizações nas redes sociais e outras várias táticas de pressionar governos a criar políticas em favor de grupos vulneráveis.
Portanto, podemos encontrar brechas e formas de resistir mesmo em cenários complexos e até mesmo opressivos. Mas é necessário entender que, em vez de pensar somente em proteções individuais, esses temas envolvem e dependem da comunidade como um todo e de direitos coletivos. Por isso, é importante difundir o conhecimento sobre as tecnologias e os riscos da vigilância e do vigilantismo, para que possamos garantir nossos direitos e tornar a nossa realidade mais segura para todos e todas.
Já pensou se mais pessoas fizessem como as pessoas criadoras das ferramentas que citamos e usassem tecnologias com códigos abertos e transparência para tentar resolver problemas que o Estado não resolve? Seria incrível, né? Então, fica a dica!
Aprofunde-se no tema
Ao final do episódio, nossos apresentadores e convidados indicam livros, filmes, documentários e artigos que colaboram para o aprofundamento do tema discutido. Confira:
Cecília Olliveira recomenda:
- A série: ‘A Escuta’ (2002), de David Simon.
- A série: ‘Breaking Bad’ (2008), de Vince Gilligan.
- O livro ‘O Dono do Morro: Um homem e a batalha pelo Rio’ (2015), de Misha Glenny, pela editora Companhia das Letras.
Nina da hora sugere:
- O livro ‘A Cientista Guerreira do Facão Furioso’ (2019), de Fábio Cabral, pela editora Malê.
- O livro ‘African Mathematics: From Bones to Computers’ (2011), de Abdul Bangura, pela editora UPA.
- Os quadrinhos ‘Pantera Negra‘ (1966), de Stan Lee e Jack Kirby pela Marvel Comics.
Silvana Bahia indica:
- O livro ‘Algorithms of Oppression’ (2018), de Safiya Umoja Noble, pela editora NYU Press.
- O podcast ‘Data Lábia’ (2012), produzido pelo Data Labe.
- O museu ‘Itamar Assumpção’, (2020).
Anna Carolina Venturine indica:
- O filme ‘ELA’ (2013), de Spike Jonze.
- A saga Star Wars, de George Lucas.
Luisa Plastino sugere:
- As batalhas de poesia Slam das Minas e Slam do 13.
Áudios utilizados no episódio 08
Trecho de reportagem sobre o aplicativo Penhas no canal Futura.
Trecho de reportagem sobre o aplicativo Operação Serenata de Amor, no jornal Band Cidade.
Trecho do TED talk ‘How Online Trackers Track You, and What You Can Do About It | TEDxUniversityofTulsa’, do engenheiro Luke Crouch (especialista em segurança e privacidade)
O Revoar é publicado semanalmente, às quintas-feiras, sempre no começo do dia. A temporada Vigilância, vigilantismo e democracia é apresentada por Anna Carolina Ribeiro e Felipe de Paula, com produção da Rádio Novelo.
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Jornalista especializada na cobertura do tráfico de drogas e armas e da violência. Atualmente no El País Brasil, foi editora colaborativa do The Intercept Brasil. É diretora do Instituto Fogo Cruzado.
Cientista da computação em construção pela PUCRio, pesquisadora bolsista no Programa Youth Brasil 2020, com experiência no programa Apple developer Academy, criadora do Ogunhê Podcast, colunista do MITTechReviewBrasil e GizModo, e membro do Conselho consultivo de segurança do TikTok.
Codiretora executiva do Olabi, coordenadora da PretaLab (iniciativa de estímulo às mulheres negras nas tecnologias e inovação), mestre em cultura e territorialidades pela UFF, pesquisadora associada do grupo de arte e Inteligência Artificial da USP e do grupo de pesquisa em Políticas e Economia da Informação e Comunicação da UFRJ.
Ficha técnica
O podcast é uma produção da Rádio Novelo para o LAUT
Apresentação: Anna Carolina Venturini e Felipe de Paula
Coordenação: Clara Rellstab
Roteiro: Anna Venturini, Felipe de Paula, Luisa Plastino e Pedro Ansel
Tratamento de roteiro: Clara Rellstab
Pesquisa: Pedro Ansel e Luisa Plastino
Edição e montagem: Claudia Holanda e Julia Matos
Finalização e mixagem: João Jabace
Engenheiro de som: Gabriel Nascimbeni (Estúdio Trampolim)
Música original: Mari Romano
Identidade visual: Sergio Berkenbrock dos Santos
Coordenação digital: Iara Crepaldi e Bia Ribeiro
Redes sociais: Andressa Maciel e Iara Crepaldi
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